Ela ficou imaginando qual seria a cor do sofá da sala em que
ele sempre adormecia com o computador ligado ou lendo algum texto não tão
interessante. Normalmente esses sofás costumam ser desconfortáveis, porque,
afinal, não se trata de uma sala de sofás. E esta que seria a peça mais desnecessária,
ganha status de imprescindibilidade.
Lembrou-se do sofá preto em que seu filho adolescente teimava em dormitar antes de ir para a cama . Lá, mesmo a contragosto seu, ele podia
enrolar a madrugada inteira antes de tomar banho e trocá-lo pela cama e pelo
pijama. Lembrou-se do pai que, até hoje, amanhecia no sofá lilás do meio da
sala e lá permanecia para não ouvir as lamúrias de sua velha mãe.
Havia o sofá do porão do vizinho que ela visitou várias
vezes em sua longínqua juventude e já quase não se lembrava disso! Era a prova
inconteste de que ninguém precisa de uma cama para conhecer todos os meandros do
prazer. Nunca um sofá velho e empoeirado
imaginaria ser tão explorado! E tinha o
sofá novo do amigo de infância que ela queimou com o ferro de passar roupas nas últimas férias que passou em Cuiabá. Riu-se lembrando do sofá que
viu a vizinha despachar porque estava trabalhado
pela sogra.... E o sofá de sua sala, cheio de seus gatos! Leco, Neco, Teco e Beco
que ali deitavam e ronronavam o dia inteiro impávidos...
Criou um verdadeiro desfile mental de sofás para não se permitir pensar que ele
dormia no sofá da sala do computador para, inconscientemente, retardar a hora de ir para a cama, onde a
mulher incansavelmente o esperava... E ai o sofá era
verde, da cor de tudo o que brota e medra e espera o dia nascer. Então lembrava
que não! Que devia ser um sofá marrom-desbotado mesmo, em que ele se deixava cair de cansaço na esperar da mulher linda e perfumada que nunca terminava seus relatórios diários antes das duas da madrugada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário