quarta-feira, 18 de abril de 2012

A cor do sofá da sala de livros

Ela ficou imaginando qual seria a cor do sofá da sala em que ele sempre adormecia com o computador ligado ou lendo algum texto não tão interessante. Normalmente esses sofás costumam ser desconfortáveis, porque, afinal, não se trata de uma sala de sofás. E esta que seria a peça mais desnecessária, ganha status de imprescindibilidade.
Lembrou-se do sofá preto em que seu filho adolescente teimava em dormitar antes de ir para a cama . Lá, mesmo a contragosto seu, ele podia enrolar a madrugada inteira antes de tomar banho e trocá-lo pela cama e pelo pijama. Lembrou-se do pai que, até hoje, amanhecia no sofá lilás do meio da sala e lá permanecia para não ouvir as lamúrias de sua velha mãe.
Havia o sofá do porão do vizinho que ela visitou várias vezes em sua longínqua juventude e já quase não se lembrava disso! Era a prova inconteste de que ninguém precisa de uma cama para conhecer todos os meandros do prazer.  Nunca um sofá velho e empoeirado imaginaria ser tão explorado!  E tinha o sofá novo do amigo de infância que ela queimou com o ferro de passar roupas nas últimas férias que passou em Cuiabá. Riu-se lembrando do sofá que viu a vizinha despachar porque estava trabalhado pela sogra.... E o sofá de sua sala, cheio de seus gatos! Leco, Neco, Teco e Beco que ali deitavam e ronronavam o dia inteiro impávidos...
Criou um verdadeiro desfile mental de sofás para não se permitir pensar que ele dormia no sofá da sala do computador para, inconscientemente,  retardar a hora de ir para a cama, onde a mulher incansavelmente o esperava...  E ai o sofá era verde, da cor de tudo o que brota e medra e espera o dia nascer. Então lembrava que não! Que devia ser um sofá marrom-desbotado mesmo,  em que ele se deixava cair de cansaço  na esperar da mulher linda e perfumada que nunca terminava seus relatórios diários antes das duas da madrugada! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário