quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Fada Bêbada, muito prazer!!!!!

As coisas não são exatamente perfeitas. Aqui no blog também não e, depois de uma semana sem muito assunto, inspiração ou tempo para escrever uma linha que fosse, resolvi abrir espaço para a Fada Bêbada. Ela está sempre por perto, insistente, cheia de opinião, muito embora hoje vá só se apresentar. Então, sempre que eu não puder, não quiser ou não conseguir...ela ocupará o espaço. Espero com isso não perder os poucos leitores que venho atraindo com insistência e muita divulgação do blog!!! Com a palavra...A Fada Bêbada.

Abro mão de alcunhas, inclusive a de Fada  Bêbada...Mas por insistência da galera, respondo como tal. Porque apelido é como cachorro: só pega quem tem medo. As pessoas não se conformam quando alguém persegue a perfeição e consegue chegar perto dela. Mas é sem qualquer pretensão que reconheço o motivo desta alcunha infame. Fada porque eu poderia, tranquilamente, representar a mulher moderna e suas aspirações e conquistas. Tenho minha independência e realização profissional, aliás, comando uma equipe quase toda formada por homens e consegui prestígio na minha área desde muito cedo. Digamos que eu soube aproveitar as oportunidades que cavei! Sou bonita sim, obrigada e sei que meu papo convence. Além de que sou divertida sem ser extravagante. Sou a filhinha querida dos meus pais, a amiga de todas as horas dos meus amigos de longas datas e a melhor dona que minha iguana poderia ter! Fada porque tenho mãos encantadas para fazer "comidinhas para depois do amor" e fada porque choro toda vez que ouço As Time Goes Bye ou The Sound of the Music. E porque sei que serei uma mãe adorável tão logo meu processo de adoção esteja concluso. Bêbada porque, ao som de Miles Davis, afogo, literalmente, minhas mágoas em banheiras redondas das suítes masters dos motéis. Só eu e uma Absolut. É, e daí? Perfeição maior talvez  fosse um Logan 18 anos, mas dos escoceses me bastam as saias! Bêbada porque de dez palavras que brado, onze são de baixo calão nessas horas etílicas... E bêbada, sobretudo, porque até para uma fada estar só é foda!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

“Tempo de Travessia”

Eis que a poesia se abre em verso... toda prosa!!!

Fiquem calmos que não vou postar aqui poesia para a felicidade da maioria. Só estou ainda na vibe da capa de aniversário da Playboy com a Cléo Pires tatuada em rena pelos versos de Fernando Pessoa.

Lá estou eu pegando meu jornal, aqui na banca da frente, quando chegam duas jovens. A mais novinha era a típica colegial, com espinhas em franca erupção pelo rosto e rabo de cavalo. A menos jovem apertava uma apostila de preparação para concurso público contra os peitos, como se quisesse fazê-los acompanhar o volume dos da Cléo, que ambas olhavam e comentavam na Playboy exposta : “Meu primo disse que o poema é de Fernando Pessoa e fala em tirar a roupa...”

Pois eis que dentre tantos heterônimos, Pessoa devia ter um punheteiro de plantão, ainda desconhecido pelo grande público, que ao invés de ficar divagando sobre tempos de travessia, certamente devia saber dar bons conselhos de como passar em concursos públicos concorridíssimos, em que trezentas pessoas disputam uma vaga ou como ser um funcionário público exemplar, coisa que ele certamente tentou ser não muito bem sucedidamente! Este mesmo heterônimo deve ter escrito o protótipo de um blog de auto-ajuda que nos fizesse mais conformados e enformados na nossa busca incessante por uma tão propagada estabilidade em plena dita pós-modernidade caótica...

Se Pessoa despiu a Cléo ou se a Cléo vestiu Pessoa pouco importa! O primo da moça já disse que ele, com muita propriedade, mandou-a tirar a roupa! Então, que se abra o poema ou quem quiser que tatue outro!

domingo, 15 de agosto de 2010

W.C feminino

Mulheres fingem que não fingem e tanto fingem que fingem não fazer xixi em pé, esta que seria uma diferença significativa se estivéssemos tratando de divergências entre o modus operandi dos sistemas excretores feminino e masculino. Para a sorte da ciência e dos leitores, nossa discussão é bem mais sutil ou tão mais profunda que não valeria a pena chegar ao fundo do poço ou do fosso!

Feitas as preliminares e, sem trazer desta palavra qualquer duplo sentido, travaremos apenas mais uma conversa de mulher para mulheres - e homens, não necessariamente nesta ordem.

Homens constroem personagens femininas na tentativa de devassar seus interiores com uma propriedade de criador à sua criatura ou na busca por sentir, quem sabe, o contorcionismo das entranhas, o inchaço do ventre ou, quiçá, cólicas, que não meramente intestinais ou menstruais, mas cólicas de ira, de paúra, de doçura em excesso. Quantas Anas, Bárbaras e Helenas, quantas pequenas tecidas e vestidas! E quantas fulanas e beltranas que não tiveram sequer nome ou sobrenome, mas renomaram a sensibilidade de seus feitores!

Eles fazem belas cenas. Elas fingem orgasmos. Eles fingem o texto e o cenário. Elas vestem os papéis e reluzem-se no palco para o regozijo do público que finge acreditar.

Entender o universo feminino ganhou status artístico-filosófico, matiz de elevada sensibilidade. Algo como enxergar com o olho do fraco, tornando inevitavelmente digno o “enxergador”. A qüididade do movimento reside, pois, no barqueiro que, em seu barco, vê a margem passar, ou na margem por onde passa o barqueiro¿ A ontologia do universo feminino, do olhar de Monalisa às balzaquianas, traz um elemento quase transcendental à condição humana: a investigação do feminino por seus famintos olhos masculinos. Um espelho sem aço, confrontando resignado o homem à sua imagem dessemelhante.

Homens são desbravadores desde quando mulheres são observadoras de suas crias e cultivos. Então eles continuarão abrindo nossos armários, vestindo nossas roupas, escrevendo nossos diários com nossa caligrafia quase roubada. Continuarão adentrando nossos corpos em busca de nossas almas ou do famigerado ponto G, continuarão a nos bolinar na cadência certa, ou quase certa, de arrancar-nos o fremir. E nós continuaremos a fingir que fazemos xixi sentadas nos assentos dos shoppings, em que saímos à venda de nossas almas. Permitimos-lhes a crença do privilégio de fazerem xixi em pé. Afinal, eles nunca se lembrarão de perscrutar os banheiros femininos, onde deixamos silenciosos nossos dejetos. Enquanto eles estiverem ocupados em vasculhar-nos os medos e as nóias, o chão do banheiro poderá continuar salpicado de nós.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Refluxos de saudade

Outro dia voltava eu pra casa no ônibus e duas moças à minha frente trocavam lá suas confidências de banheiro feminino que também se trocam fora dos banheiros femininos. A da esquerda, que tinha um ar mais abatido,melancólico talvez, falou três vezes num fulano. Mas ela falava como quem queria aproveitar cada sílaba que lançava ao vento, como se soletrasse chocolate, ou qualquer coisa doce que o valha! E ela se lastimava que ele não a telefonara mais. Neste ponto a conversa me desinteressou ou foi o sono que começou a me tomar... Mas ela insistia na história tão mais alto que o barulho ambiente do ônibus, que fui forçada a continuar ouvindo. E nada que ela tenha contado me tocou mais que o brilhinho nos olhos que ela irradiava quando ia pormenorizando as canastrices  de sedutor barato do tal fulano. Até que ela finalizou, antes que a outra saltasse no ponto " já tem mais de um mês que não o vejo. O que é que se faz com a saudade?..." Então, despediram-se as duas e seguimos viagem: uma meia dúzia de passageiros, eu, a moça da esquerda à minha frente e sua saudade enorme.
Ah, moça da esquerda, a da direita saltou e não lhe respondeu, mas saudade é coisa para se não ter... como se não pode guardar na gaveta um caqui viçoso sem que se lhe tome o bolor. Abocanhada a fruta, lambuze-se, farte-se, digira-a, empanturre-se até. Regurgitá-la : Jamais!