quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Olha o passarinho...


Um toquezinho estranho e insistente fazia-a lembrar que já era dia e tinha de ir pra casa. Não ficava bem acordar às três da tarde na casa do peguete inabitual... mas antes das oito também... é sacanagem!!!

Ele abre o olho esquerdo, ensaia abrir o direito, constata a mensagem do face que o toquezinho anunciava e, fazendo um gracejo, pede com a voz rouca de quem ainda tá pensando em acordar:

- põe seus pezinhos do lado dos meus...

Ela, tentando entender, mas achando até bonitinho, franze a testa, mas emparelha os pezinhos aos dele. Fica com vergonha por não ter feito as unhas dos pés, mas felizmente não tinha unha encravada e seu joanete andava bem discreto ultimamente.  TSSSSC!!! Uma foto.

- ?

Antes que ela consiga organizar alguma ideia de pergunta, ele, muito faceiro, posta a foto dos pés enlaçados entre os lençóis, como resposta ao bróder que bombardeava sua linha do tempo com fotos douradas da orla ensolarada naquele domingo solar, chamando-o para uma corrida.

Ela, meio surpresa e meio puta, sentiu-se, de certa forma...exposta, invadida.... Mas, entre a preguiça e dois bocejos, achou o rapaz até bem criativo e discreto! Por via das dúvidas, levantou e foi-se embora logo. Dizem que o que abunda não vicia... mas vai que...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

De pés e pós


Tudo nela era uma crescente, das enxaquecas às paixões.  Tudo buscava seu paroxismo como numa espécie de inevitável ponto gravitacional. Vivia urgente e desesperadamente, chorava copiosamente... As coisas lhe eram superlativas!!!

Quando tinha insônia eram noites inteiras em claro e quando dormia, sonhava tanto a ponto dos sonhos sonharem a realidade, que por sua vez perdia a hora do dia.

Foi assim que, numa hora incerta de qualquer dia desses, amou. E amou tão intensa e tresloucadamente que não teve dúvida de que seus pés correriam para além do chão, até alcançar este tão perseguido amor. Assim correu, correu e correu exaustivamente.... até que de tanta sofreguidão, cuspiu pra fora do peito seu coração aflito e extasiado.

Desde então não a vi, mas soube que agora anda cantando mantras ao nascer do sol, estuda medicina ayurvédica, cultiva cogumelos numa cidadezinha no sul da França e o coração numa salmoura.