Já em casa, arrancou a camisa tricolor do busto suado e arfante! Final de campeonato e as únicas coisas que ela sabia àquela altura, eram as cores, o hino do Flusão e o placar do jogo.
Era a primeira vez que ia sozinha ao estádio. E ia ver seu time! Levou radinho de pilha, algum dinheiro num porta-documentos e um corretivo facial, que afinal, o negro de suas olheiras não combinava com o vermelho, o verde e o branco que pintavam sua pele morena.
Não por acaso, quando ainda estava sóbria e o jogo não tardava a começar, veio-lhe à mente uma sensação tão remota quanto viva e quente, do seu aniversário de dezoito anos, quando alugou um quarto de hotel e trancou-se lá por dois dias com o violão, três maços de cigarro e uma garrafa de vodka barata e Tomaz, uma calopsita que assobiava o hino do Flu e do Brasil com os pés nas costas... ou com as asas na cabeça!!!
Foi tanta coisa passando em frente aos seus olhos estáticos, no meio da arquibancada, que ela não lembrava quem tinha feito o primeiro gol, nem sabia exatamente se o juiz marcava tiro de meta ou pênalti... Na verdade, só conseguia ver o dito impedimento quando o comentarista apontava na tela da TV. Mas o moço que vendia cerveja, passou cantando uma música árabe, se seus ouvidos não a enganavam... e o garotinho à sua frente conhecia nome e sobrenome de todos os jogadores do time! Mas ela vibrava mais forte que todos eles juntos!
Então, àquela altura, teve pena de jogar a camisa oficial no cesto de roupa suja... Esticou-a sobre a cama e estendeu-se, de corpo exausto e nu, sobre ela. Achou que daria uma foto até bem sensual... Sua cara manchada de rímel e tinta escorrida pelo colo despido... suas coxas grossas e grudadas de suor colando na fibra da camisa... Fez caras e bocas, excitou-se com sua performance de torcedora tricolor vitoriosa e despida, gargalhou alto e dormiu pesadamente depois de se tocar e sentir seu corpo inteiro fremir.
Acordou com o destempero do despertador, depois de ativada a função soneca pela quinta vez. Jogou-se sob o chuveiro, catou os estardalhaços da noite anterior no seu quarto, mergulhou no primeiro vestido que achou no guarda-roupas e meteu toda a bagunça na área de serviço. A camisa do Nense foi embandeirar-se flamejante na janela e ela saiu calçando os sapatos no caminho. Quase esquece as chaves do carro e só sossegou quando apertou contra o peito o filho que a esperava de farda e mochilinha na entrada do prédio do ex-marido. Agora podiam comemorar juntos a semana inteirinha! Mas a próxima final do Flu era dela e tava combinado!
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