terça-feira, 13 de março de 2012

Diário do Fim do Mundo - Parte I

        Começou uma espécie de Diário do Fim do Mundo, porque de alguma forma, algo em si ruía. E ela que sempre acreditou que mudanças são boas, mesmo que fosse para sacolejar a existência, estava com medo.

        Apegar-se à sua solidão era, por mais anacrônico que pudesse parecer, uma forma de sentir-se menos só. E esta companhia a confortava. Ademais, estava bastante ocupada com seu Diário de fim do mundo...  Nele tomava nota que mudara de cores. Agora usava roupas escuras, preto de preferência, mas cinza e azul marinho iam-lhe então muito bem. Longe de ser um luto, era um compenetrar-se em si, uma misantropia necessária. Ela, sempre muito dada às gentes, via-se em momento de contenção. Estava retendo as cores todas dentro de si, de modo a não deixar nada para as roupas, nada para quem a visse...


        Há anos atrás experimentara uma contenção semelhante... naquela ocasião, sumira com as cores por enjoar delas... as quentes então, chegavam a lhe causar urticária, enxaqueca, náuseas a não mais poder!
Agora se tratava de uma purgação de excessos... Havia tanto mundo dentro de si, que precisava podar as sobras, guardar o que não cabia a mais ninguém. Apossou-se, egoisticamente, de suas cores... Então, menos verde, menos amarelo, até menos vermelho – sua cor mais expansiva! Guardá-las todas era uma forma de protegê-las, n´algum lugar seguro e eterno, aonde o fim do mundo não chegaria!

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