terça-feira, 11 de setembro de 2012

Atavismos pós modernos


Cinco quilos e meio mais gorda e depois de tentar uns seis regimes descompromissada ou descaradamente mesmo, resolveu, meio como que sem querer, adaptar-se à nova figura mais rechonchuda. Os anéis do dedo anelar agora só cabiam no mindinho, o que tornava inúteis as antigas alianças de compromisso. E que mal havia afinal, se eram velhas alianças de ex-compromissos? Melhor que não coubessem mais em dedo nenhum mesmo!

Agora era esquecer as roupas apertadas e desfilar o novo look sem restrições... uma espécie de abuse-se sem moderações. A ordem do dia era ser gordinha e feliz! Embora decerto esta felicidade estivesse sufocada entre a muita malha do camisão XG que lhe fazia as vezes de mortalha sepulcral. Depois de ouvir um desavergonhado “ô lá em casa!!!”, tinha de admitir ter ficado mais à vontade no corpanzil avantajado... Muito embora tivesse a consciência de ser  uma moça alta, de traços harmoniosos que conversavam com a tonalidade da sua pele e a expressividade dos seus olhos, segundo palavras do personal stylist que, mediante o módico custo de seus honorários, fê-la ressignificar sua relação coma balança !

E tava tudo quase certo. Mais umas cinco sessões de terapia e saberia como dialogar com a enorme e irrefutávelvel  saudade da época em que esperneava e retrucava as cantadas baratas dos machos alfa que tentavam reduzi-la à condição ínfima de objeto sexual.

Mas enquanto não atingia esta elevação espiritual, que a deixaria a um passo da felicidade, abria a geladeira pra pensar. Sim, porque longe de ser um hábito de gordo, abrir a geladeira para caçar coisinhas geladas é, praticamente um atavismo existencial da pós-modernidade!



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