quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Pra além do arco-íres

Todos os dias, só acordava ao tocar os dedos no chienelo ao pé da cama. Então fazia nascer o dia e ela se editava em mais um capítulo. Era a novela que nunca acabava porque só tinha começo. Ou seria cinema? Adorava fins de ano, porque haveria o primeiro dia ... Fim de década... E já havia passado por duas. Presenciou o fim do milênio e devia se achar uma privilegiada por isso. Fazia todos os planos e começava a executá-los. Mas depois do início vinha o meio e, como ela só queria o novo, voltava ao zero e vivia assim fantasiada de fênix, escondendo as rugas que também insistiam em começar.
Ela adorava promessas – as próprias e as alheias. Assim, tudo era novidade e ela garantia que não se jogaria do terraço!
O tédio era uma pedra que ela jogava na vidraça do vizinho da frente.
Certo dia minha vidraça não se estraçalhou e tudo que soube foi que a inquilina do apartamento de frente ao meu havia se mudado. Certamente fez as malas e atravessou o arco-íres!

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