sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Refluxos de saudade

Outro dia voltava eu pra casa no ônibus e duas moças à minha frente trocavam lá suas confidências de banheiro feminino que também se trocam fora dos banheiros femininos. A da esquerda, que tinha um ar mais abatido,melancólico talvez, falou três vezes num fulano. Mas ela falava como quem queria aproveitar cada sílaba que lançava ao vento, como se soletrasse chocolate, ou qualquer coisa doce que o valha! E ela se lastimava que ele não a telefonara mais. Neste ponto a conversa me desinteressou ou foi o sono que começou a me tomar... Mas ela insistia na história tão mais alto que o barulho ambiente do ônibus, que fui forçada a continuar ouvindo. E nada que ela tenha contado me tocou mais que o brilhinho nos olhos que ela irradiava quando ia pormenorizando as canastrices  de sedutor barato do tal fulano. Até que ela finalizou, antes que a outra saltasse no ponto " já tem mais de um mês que não o vejo. O que é que se faz com a saudade?..." Então, despediram-se as duas e seguimos viagem: uma meia dúzia de passageiros, eu, a moça da esquerda à minha frente e sua saudade enorme.
Ah, moça da esquerda, a da direita saltou e não lhe respondeu, mas saudade é coisa para se não ter... como se não pode guardar na gaveta um caqui viçoso sem que se lhe tome o bolor. Abocanhada a fruta, lambuze-se, farte-se, digira-a, empanturre-se até. Regurgitá-la : Jamais!

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