Ela tinha vinte e dois anos, três
papagaios, duas tartarugas e um medo horrível da solidão... Mas não gostava de
gente.
Trabalhava de sábado a sábado,
das oito às dezoito... e no domingo conversava com
a algazarra de Tartufo, Rogério e
Alfredo. Alternava o passar do tempo dando alface fresca a Margot e Osmar. Mas sempre,
ainda antes das seis da tarde, sobrava um tempo que demorava a acabar. A
programação da TV aberta lhe lembrava o fim da tarde de um domingo lento e
isso, de uma forma muito certeira, a perturbava.
Não costumava ter dinheiro
sobrando para locar filmes... e quando tinha... preferia ir ao cinema. Hesitava,
na maior parte das vezes, porque sabia que a olhariam, teriam pena de que estivesse só...
Então, chegava sempre com os traillers
começando. E, se por ventura, errasse nos cálculos e chegasse um pouco antes,
fazia pose na catraca da entrada, olhando impacientemente o relógio e pegando o
celular como se fosse discar para alguém que a fazia esperar. Assim ficava mais
aliviada. Mesmo assim, só entrava na sessão, depois das luzes apagadas e
fazendo cara de quem tomou bolo!
Teve uns dois namoricos, que não
superaram o marco de um mês de deduração e, nas duas vezes, deu graças a Deus
quando terminaram. Além de tudo não gostava de sexo... ou não sentia falta...
Começou a fazer terapia dizendo
que tinha medo que seus bichos morressem antes de si...Felizmente eles ainda
dispunham de muita vida pela frente. Também a terapia durou três ou quatro
inconsistentes sessões...
Então, adotou mais dois cágados,
um papagaio cego, que lhe demandava cuidados especiais, e plantou coentro e
tomates num canteiro improvisado no fundo da cozinha. Agora andava até
acelerada, senão o domingo não caberia no final de semana! Deitava bem cansada
e quando abria o olho... já era segunda-feira!
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