sábado, 12 de maio de 2012

Tempo de domingo


Ela tinha vinte e dois anos, três papagaios, duas tartarugas e um medo horrível da solidão... Mas não gostava de gente.

Trabalhava de sábado a sábado, das oito às dezoito... e no domingo  conversava com  a algazarra de Tartufo, Rogério e  Alfredo. Alternava o passar do tempo dando  alface fresca a Margot e Osmar. Mas sempre, ainda antes das seis da tarde, sobrava um tempo que demorava a acabar. A programação da TV aberta lhe lembrava o fim da tarde de um domingo lento e isso, de uma forma muito certeira, a perturbava.

Não costumava ter dinheiro sobrando para locar filmes... e quando tinha... preferia ir ao cinema. Hesitava, na maior parte das vezes, porque sabia que a olhariam, teriam pena de que estivesse só... Então, chegava sempre com os traillers começando. E, se por ventura, errasse nos cálculos e chegasse um pouco antes, fazia pose na catraca da entrada, olhando impacientemente o relógio e pegando o celular como se fosse discar para alguém que a fazia esperar. Assim ficava mais aliviada. Mesmo assim, só entrava na sessão, depois das luzes apagadas e fazendo  cara de quem tomou bolo!

Teve uns dois namoricos, que não superaram o marco de um mês de deduração e, nas duas vezes, deu graças a Deus quando terminaram. Além de tudo não gostava de sexo... ou  não sentia falta...

Começou a fazer terapia dizendo que tinha medo que seus bichos morressem antes de si...Felizmente eles ainda dispunham de muita vida pela frente. Também a terapia durou três ou quatro inconsistentes sessões...

Então, adotou mais dois cágados, um papagaio cego, que lhe demandava cuidados especiais, e plantou coentro e tomates num canteiro improvisado no fundo da cozinha. Agora andava até acelerada, senão o domingo não caberia no final de semana! Deitava bem cansada e quando abria o olho... já era segunda-feira!


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