sábado, 18 de fevereiro de 2012

Amores Malditos - Parte II (Edição Especial de Carnaval: Mal de Amor)


      Já saiu chutando latas e as pedras soltas da calçada. Nunca soube dizer quanto tempo ficaria fora, nem precisaria, era Carnaval! Ele só precisava estar na rua. Assim, de repente, algum respingo da alegria alheia poderia, quem sabe, atingi-lo! Mas tristeza não é boa fantasia carnavalesca e certamente que ele não encontraria alento antes de despir-se dela.
      Os foliões respiravam com tanta ânsia que lhe roubavam todo o ar. Também não lhe sobrava espaço onde fincar os pés. Pensou em sair voando, mas as dores do amor pesam nas costas, murcham o peito... e a primeira lição para qualquer bicho que voe é manter o queixo erguido e o peito estufado. Ele não tinha postura, nem ares de voador...
      Como o dinheiro também lhe era escasso, já saia de casa calibrado ao rum com laranja e soda limonada .
      A rua estava apinhada de moças lindas, rapazes fortes, criaturas verdes, crianças coloridas, papagaios de pirata e algo tão grande, mas tão grande... que a qualquer momento, quando menos se esperasse, poderia explodir! Teve medo e a convicção de ser o único desperto ali. Toda aquela alegria dependeria do quão desapercebido ele conseguisse singrar entre a multidão entorpecida.
      Então começou apertar o coraçãozinho acanhado dentro da blusa. Sabia que só o silencio, que tentava inutilmente esconder, causaria estertor maior que a gargalhada eufórica da multidão. Certamente teria enlouquecido naquele instante, corrido ou saltado da ponte, mas, quando a moça inadvertida se lhe esbarrou, vertendo-lhe toda a cerveja que trazia à mão, apenas ensaiou um sorriso amarelo que não precisou gastar, já que ela, rápida e desajeitada, no mesmo afã com que chegou, saiu, não sem antes sorver-lhe a boca num beijo de dez minutos.
      Depois dali, certamente que algo enorme teria explodido sim, lançando estardalhaços por todo lado e fazendo com que sua cabeça latejasse, suas pernas bambeassem  e seu estômago revirasse. Não, não, a postura ruim continuava a ser o velho mal de amor e o peso dos muitos carnavais!

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