quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A criatura e a palavra


A criatura, cujo hálito embriagado, vomita a noite ida e a bílis amarelada pela janela, fica quieta em seu casulo até a próxima madrugada, quando sai borboleteada e ainda zonza. Ela só não se conforma em ter que dizer alguma coisa. Ela é tão linda em suas asas translúcidas, aeradas, oníricas.... Dizer o que?!
Mas não bastam imagens, nem palavras ocas. Deve haver o óbvio e o óbvio lhe soa pontiagudo demais aos ouvidos. A criatura não cabe na palavra e se recusa a usá-la como recipiente. Também não pretende carregá-la em suas asas. A palavra tem seus próprios artefatos flutuantes...
Comer a palavra e ser comida por ela. É a única imagem que aceitaria gora. Mas essa aceitação é inócua! Então, a criatura torna a fechar e abrir suas asas num silêncio acetinadamente leve. E voltará, depois, ao seu casulo para engendrar os novos dizeres que não dirão nada. Só sua borboletice abrirá e fechará a os lábios e as pálpebras do tempo.

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