segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Navegar é preciso...






  

      Trinta e dois graus à sombra, uma galeria encravada no meio da Sans Peña e a demora da espera para encadernar a cópia do livro xerocado... Ela olhava para cima, para o lado e para a hora no celular que gritava seu atraso. Balançava o pé, batia a ponta dos dedos na mesa... até pousar desavisadamente os olhos  na borrachinha de dinheiro contorcida sobre um pacote de papel A4. Tentou esboçar um sorriso de indiferença  mas antes, a borrachinha encarou-a muito malandramente, soltou uma gargalhada petulante e bradou em voz muito impostada:

 - Navegar continua a ser preciso, ver borrachinhas de dinheiro contorcidas não é preciso!!!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Da aparente dualidade entre ter ou ser a escolha


Entre o risco da certeza e a certeza do perigo sempre optou, muito destemidamente, pela segunda porque dava mais emoção, porque fazia o coração pulsar.  Mas as pessoas deixam de ser jovens um dia! Assim, ela deixou de optar pelo perigo. Passou a sua eleita incondicional.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Lamento de Vento Norte

Em plena segunda-feira de Carnaval  ela me sai com mais um dizer de mesa de bar:

Fada Bêbada- ...Porque amores malditos são como ervas daninhas: têm de ser extirpados e ponto. 

E não contente pega seu violão, este sim maldito, e canta:  http://www.youtube.com/watch?v=5eepOblUNaA&feature=youtu.be


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Amores Malditos - Parte II (Edição Especial de Carnaval: Mal de Amor)


      Já saiu chutando latas e as pedras soltas da calçada. Nunca soube dizer quanto tempo ficaria fora, nem precisaria, era Carnaval! Ele só precisava estar na rua. Assim, de repente, algum respingo da alegria alheia poderia, quem sabe, atingi-lo! Mas tristeza não é boa fantasia carnavalesca e certamente que ele não encontraria alento antes de despir-se dela.
      Os foliões respiravam com tanta ânsia que lhe roubavam todo o ar. Também não lhe sobrava espaço onde fincar os pés. Pensou em sair voando, mas as dores do amor pesam nas costas, murcham o peito... e a primeira lição para qualquer bicho que voe é manter o queixo erguido e o peito estufado. Ele não tinha postura, nem ares de voador...
      Como o dinheiro também lhe era escasso, já saia de casa calibrado ao rum com laranja e soda limonada .
      A rua estava apinhada de moças lindas, rapazes fortes, criaturas verdes, crianças coloridas, papagaios de pirata e algo tão grande, mas tão grande... que a qualquer momento, quando menos se esperasse, poderia explodir! Teve medo e a convicção de ser o único desperto ali. Toda aquela alegria dependeria do quão desapercebido ele conseguisse singrar entre a multidão entorpecida.
      Então começou apertar o coraçãozinho acanhado dentro da blusa. Sabia que só o silencio, que tentava inutilmente esconder, causaria estertor maior que a gargalhada eufórica da multidão. Certamente teria enlouquecido naquele instante, corrido ou saltado da ponte, mas, quando a moça inadvertida se lhe esbarrou, vertendo-lhe toda a cerveja que trazia à mão, apenas ensaiou um sorriso amarelo que não precisou gastar, já que ela, rápida e desajeitada, no mesmo afã com que chegou, saiu, não sem antes sorver-lhe a boca num beijo de dez minutos.
      Depois dali, certamente que algo enorme teria explodido sim, lançando estardalhaços por todo lado e fazendo com que sua cabeça latejasse, suas pernas bambeassem  e seu estômago revirasse. Não, não, a postura ruim continuava a ser o velho mal de amor e o peso dos muitos carnavais!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amores malditos - Parte I


      De frente ao Tenente Gomes insistia. Queria porque queria falar com o PM Guedes. Ele estava errado. Era um absurdo preteri-la em função das outras meninas. A rua era dela também e ele não podia fazer vistas grossas de novo. Tinha que tomar uma providência. Ele estava do lado delas, por acaso? Viu quando mexeu com uma das meninas, cheio de intensões!!! Falava com sua voz grossa que o tal PM a olhava sempre de cima a baixo, fazia cara de poucos amigos... mas tinha certeza que ele a queria tanto quanto ela o desejava. Então resolveu testa-la, enciumá-la, atormentar-lhe o sono. E conseguira! Nunca mais dormira em paz, desde aquele dia, pensando naquele homem grande, com uma cara enorme e dentes de quem morde pedra.
      Àquela altura o Tenente já suspeitava da pouca sanidade de Suellen Crhistine, que voltava pela quinta vez ao 5º BPM procurando sarna pra se coçar. Mas paciência tem limite e o PM Guedes já havia perdido a dele. Chegou na sala bufando, olhou –a  com a cara maior que de costume – O que é que você quer comigo? Eu sou casado com uma mulher loira e de olhos azuis!  Me esquece ou vou jogar um processo de calúnia nas suas costas! Eu sou casado com uma mulher, porra!
      Suellen, com cara de cachorro mal morto, encheu o peito, inflando o pouco seio que tinha, endireitou a saia, mexeu nervosamente no rabo de cavalo e saiu da sala em menos de meio minuto. Foi o tempo da única lágrima que tinha guardada cair. 

Trilha sonora de Amores Malditos Parte I: http://www.youtube.com/watch?v=IUlCH8PbyiA&ob=av2e