terça-feira, 26 de abril de 2011

De pés e pós

      Quando os passos de Betina cessaram, já era lua nova e a água parada moveu-se devagar para que despisse seu corpo de estrada e náusea.
      Assim, a poeira seca virou lama e o frio virou orvalho de noite desperta.
     Betina molhou-se em pés e pós. Subiu o adro da serra e deitou-se, a dormir, n’algum outro lugar.
      Quando acordou, Betina não era mais gente. Era seixo. E seixo não fala, rola. Então voltou Betina à estrada batida de sol. Voltou para casa.

                                                         " No último pau de Arara de Irará..."
                                      (Gil)

domingo, 24 de abril de 2011

Palavra (mal-bem)dita

"Na palavra, na linguagem, é que são primeiramente as coisas" 
                                                (M. Heidegger)

Então ela disse eu te amo e eu te amo era tão fátuo... Mas flamejava como bandeira ao vento e pelo vento ia-se e vinha e punha-se a voltar...
Ouvia-se como jingle repetitivo nos ouvidos incautos e até se fazia acreditar. Fê-la acreditar que amava
             ...
E assim amei por entre todos e todos os dias
Em que ouvia um silvo de silêncio
Amei  até as partidas e delas vesti todas as roupas...
           ...
E como ninguém mais acreditasse na palavra alçada ao tempo, ela insistiu em sua crença solitária e morreu de amores – só para contrariar os avessos, só pela rebeldia  e para  continuar escrava das palavras!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como espantar Fadinhas e /ou Mariposas

Fadas Bêbadas em finais de semana estão para mariposas na luz...Rodopiam, penduram balangadans no pescoço e fitas nos cabelos, cantam desritimadamente, quando não desafinadamente, que quem assim as vê jura serem eternas! Que sempre estiveram ali e não vieram nem irão a lugar nenhum.
Mas, como as mariposas, ou bichinhos da luz, basta que se apaguem as luzes ou deixem que elas mesmas se enfastiem e torrem-se-lhe os miolos, os badulaques e os últimos tostões.
Apaguem a luz e mandem que elas se vão, que , como por magia, elas jamais terão estado ali.