sábado, 20 de novembro de 2010

Gostosa e sexy sim, Bukowski


“valeu mesmo”, ele disse quando contei-lhe que o cara com quem dancei no bar não foi para casa comigo porque sabia que eu estava acompanhada.

Dizia que eu estava sempre pensando em sexo. Eu apenas levava sempre o sexo comigo, como quem leva enrolado um saco de papel. Muita energia? Talvez eu tenha moldado meu modus vivendi em Marilyn Monroe.

Ele dizia que seus amigos se surpreendiam com o fato dele estar ainda comigo depois de tudo o que já havia acontecido.

Caminho, sim, com estranhos na rua que me abordam com um bom dia, desde que seja um bom dia novo. Desaprendi a não falar com estranhos.

Então, depois de tempos em que não nos víamos mais, andou dizendo que eu havia “submergido em meus órgãos sexuais e desaparecido” e que “eu era como um despertador caído no Grand Canyon, que tocou , tocou e pouco mais ou menos conseguiu incomodar os peixinhos”.

Senti sua falta, claro! Robou-se de mim, mas deu-se a si de presente e se dedicou ao sapateado e soube que namora uma moça linda e lânguida.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dança de Libélulas

  A Fada Bêbada me fez uma confissão esta tarde. Disse que nunca aprendeu a dançar. Tem algum tipo de disritimia, que não é cardíaca... Mas dos pés mesmo. Quase tremeu os lábios quando revelou nunca ter dançado valsa de quinze anos  nem de formatura. Como uma moça deve ter pés de anjo e se deixar conduzir na dança, a Fada Bêbada não dança! Ela conduz tudo, inclusive seus tropeços todos. E ela cai desde a mais tenra idade. Pensa que pode voar e ei-la no chão!
Então, numa reciprocidade de confissões, revelo-lhe também meus passos errados numa dança de libélulas:



Não escrevo poesia
Nem escrevo
Grito  da boca pra dentro
Sento nua nesta cadeira
E liberto as libélulas todas de vez

Aprendi a não escrever poesia
E a sentar em todas as cadeiras

A dança das libélulas
É uma dança que se dança só                                                       
È de uma simetria infame                                                                                      
Pêndulo de movimentos certinhos                                               

Nunca aprendi a valsar
A versar
Então sento de costas para o quarto escuro
E libélulo
Liberto minha coleção de meninas nos papéis
Voam
E eu desabo da fadiga desta única dança.


P.S - Foto apanhada no blog http://naparededocasulo.blogspot.com/ 

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Olhos e gatos de Iracema

Mulheres com gatos costumam ter alma volátil e pés quentes, foi o que me confirmou ontem uma jovem senhora ruiva de sessenta e poucos anos e olhos cor de janela aberta!
Os moços e moças que estávamos na sala debruçamo-nos todos sob seu para-peito largo e avistamos, de soslaio, uma paisagem ensolarada de poesia picada ...Enquanto, ela, numa modéstia felina, insistia que era escritora para suas gavetas.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Muita humanidade pra pouca gente

      N´alguma fenda secreta de nossas almas, um serzinho ínfimo, quase invisível, alimenta dia após dia, um Hyde carniceiro, um Exu faminto, um diabinho com tridente afiado. E cada um sabe a hora de soltar os bichos. Cada um sabe quando toca o terceiro sinal para lançar seu monstro ao público.E é nesse átimo bestial que nos batizamos de tão propagada humanidade. Paradoxalmente, é neste mesmo instante que ressoam dos quatro cantos burburinhos como “Isso é desumano!!”. Essa humanidade hígida é uma perfídia, daí a máxima cristã: “... que atire a primeira pedra...”
      Hyde está sempre se aquecendo atrás da cochia...Qualquer hora ele ganha a cena e não vai ser uma pedra que ele vai lançar. Ele vai chegar montado numa catapulta! E depois do espetáculo, sem nenhuma polidez, arrotará na cara dos pagantes, sem ao menos lembrar de agradecer ao serzinho ínfimo que tão desveladamente o alimentou